Crítica: nada de novo no front intensifica o trauma geracional da guerra

CRÍTICA: Nada de Novo no Front expõe o trauma geracional da guerra

Avatar de fernando gomes
Longa do alemão Edward Berger acerta ao mostrar o ciclo vicioso da guerra a partir da visão jovens desesperados. Leia a crítica

Quase como uma tradição de Oscar, um novo filme de guerra está entre os mais indicados do maior prêmio mundial do cinema. ‘Nada de Novo no Front‘ tinha um grande desafio em mãos e conseguiu cumpri-lo com uma trama intensa sobre a Primeira Guerra Mundial.

Esse tipo de gênero é constante alvo de comentários por vários motivos. Por exemplo, frequentemente, a técnica se sobressai. Cenas de conflito e efeitos especiais costumam ser impactantes em tela. Por outro lado, uma parcela dos espectadores se vê um pouco cansado de assistir uma fórmula similar ao que já foi feito. Para tentar escapar dessa comodidade, o filme do Edward Berger vem falar sobre o lado do derrotado: a Alemanha e seu povo desolado.

Não há “nada de novo no Front” mesmo?

Crítica: nada de novo no front intensifica o trauma geracional da guerra
Filme traz o terror vivido por jovens alemães na Primeira Guerra. (Imagem: Netflix/Divulgação)

Disponível na Netflix, o longa aborda o confronto germânico contra o Reino Unido durante a Primeira Guerra a partir de Paul (Felix Kammerer), um jovem convocado para atuar na linha de frente da guerra. Seu entusiasmo é contagiante entre seus amigos e outros garotos que também se alistaram. Porém, a partir do momento que ele entra em campo de batalha, a ficha cai e a realidade vem à tona.

Indiscutivelmente, ‘Nada de Novo no Front‘ entrega a rodo qualidade técnica. A maneira como James Friend, diretor de fotografia, conduz a câmera por entre as trincheiras, nos conflitos, na paz cortante do anoitecer e muitos outros momentos é de grande impacto. Junto a isso, a maquiagem e os efeitos visuais tornam as cenas mais viscerais, repugnantes e realistas. Agora, o maior prestígio do filme, no entanto, está em outro lugar.

Crítica: nada de novo no front intensifica o trauma geracional da guerra
All Quiet on the Western Front entrega não só técnica, mas uma narrativa excelente. (Imagem: Netflix/Divulgação)

Edward Berger não discorre apenas sobre a visão de derrotados, mas da falsa sensação de liberdade que a Alemanha pregava aos seus jovens com base na influência dos militares. Na trama, Paul não completou nem os 18 anos antes de vestir um uniforme e ser atirado no meio do que pode ser chamado de próprio inferno na Terra.

A maneira como o público acompanha pelos olhos desse jovem o mundo à volta desmoronar e explodir — literalmente — é uma sensação dilaceradora. Outros filmes de guerra têm um aspecto mais forte no que diz respeito à carga dramática de sua história, mas aqui isso é o que dá vida ao longa e o que torna ele especial de fato.

Os dois lados da moeda

Crítica: nada de novo no front intensifica o trauma geracional da guerra
Enquanto o Reino Unido intensifica o ataque, a tropa alemã padece nas trincheiras. (Imagem: Netflix/Divulgação)

Um fato interessante é a dualidade entre este filme e ‘1917‘, que também se passa na Primeira Guerra, mas pelo olhar do inimigo da Alemanha — e, claro, também com outra trama. Mas, diferente de ‘Nada de Novo no Front’, ‘1917’ aposta muito mais na estética que no roteiro.

O maior desejo dos jovens alemães na época era ingressar na luta para defender uma ideia nacionalista que só gerava ódio. Uma vez presente em solo de combate, a vontade era escapar daquele horror. Este filme também mostra que nunca houve um sossego de verdade, mesmo enquanto havia otimismo em uma possível vitória. O diretor reitera o movimento cíclico durante uma guerra cujo resultado é apenas desespero e trauma coletivo.

Vale a pena assistir a ‘Nada de Novo no Front’?

Crítica: nada de novo no front intensifica o trauma geracional da guerra
Netflix tem um bom nome para disputar o Oscar neste ano. (Imagem: Netflix/Divulgação)

Com essa proposta avassaladora, o longa alemão é a terceira adaptação da obra homônima, publicada em 1929 e escrita por Erich Maria Remarque. E sua recepção tem sido excelente. O filme saiu do BAFTA deste ano com sete vitórias. Além disso, o circuito de premiações fez questão de não esquecê-lo, incluindo o Oscar 2023.

Para além de acompanhar esse título em alta, vale a pena conferir esse drama que retrata um período muito conturbado na história mundial. Ele não revoluciona o formato, mas entrega uma boa experiência com um olhar inédito e ótimos atores. Mesmo aos menos chegados ao gênero, recomendamos dar uma chance ao filme alemão.

Quais as chances no Oscar 2023?

Crítica: nada de novo no front intensifica o trauma geracional da guerra
O longa tem chances de levar, no mínimo, duas estatuetas. (Imagem: Netflix/Divulgação)

Neste ano, ‘Nada de Novo no Front‘ está concorrendo a nove categorias, sendo o segundo mais indicado. São elas: Melhor Filme, Melhor Filme Internacional, Melhor Roteiro Adaptado, Melhores Efeitos Visuais, Melhor Fotografia, Melhor Design de Produção, Melhor Trilha Sonora Original, Melhor Maquiagem e Penteado e Melhor Som.

É esperado que o longa brilhe nas categorias mais técnicas. Melhor Som e Melhor Filme Internacional são as suas muito prováveis vitórias. Uma terceira opção é Melhor Fotografia. O título também venceria Melhores Efeitos Visuais se ‘Avatar: O Caminho da Água‘ não estivesse indicado. Maquiagem e Penteado, Roteiro Adaptado, Trilha Sonora e Design de Produção devem ir para outros filmes.

Com o boost na campanha pelo sucesso no BAFTA, a categoria de Melhor Filme não soa como um resultado tão distante. Atualmente, o filme é um dos principais que briga pela estatueta. Mas o resultado mesmo só saberemos na cerimônia, em 12 de março.

E você, já conferiu este filme da Netflix? Conte para nós o que achou.

Veja também:

Acesse também outros conteúdos relacionados no Showmetech. Leia a nossa crítica de “Os Fabelmans, de Steven Spielberg, indicado ao Oscar 2023.

Revisão do texto feita por: Pedro Bomfim

CRÍTICA: Nada de Novo no Front

CRÍTICA: Nada de Novo no Front
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Longa do alemão Edward Berger acerta ao mostrar o ciclo da guerra a partir da visão jovens desesperados.
Longa do alemão Edward Berger acerta ao mostrar o ciclo da guerra a partir da visão jovens desesperados.
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